Coluna Livre - Portal Aprendiz -
03/09/2012 - São Paulo, SP
Há anos se
escuta que o papel da escola na chamada “era da
informação” não é mais informar o aluno,
mas formá-lo. Seria ocioso empanturrar o educando de conhecimentos,
muitos dos quais ele já obtém por outros meios, em especial a
internet; o que interessa acima de tudo é lhe dar a capacidade de
filtrar os conteúdos para o resto da vida, ficando com o que tem
valor.
Não cabe
aqui entrar na complicada questão da confiabilidade das
informações a que os estudantes têm fácil acesso
hoje, embora o tema exija reflexão cuidadosa e urgente nos meios
pedagógicos. Cabe, porém, o alerta de que, se a capacidade de
selecionar criteriosamente informações evita, por um lado,
que o aluno fique atordoado em meio a uma variedade de fontes de
conteúdo, não impede, por outro, que termine por se perder
num emaranhado de elementos desconexos dentro da própria
cabeça. É a velha questão que o estudante, em alguma
fase do seu amadurecimento, acabará por colocar: “Mas pra que
serve isso tudo”? Ele seleciona os dados que importam, mas os
pedaços soltos não se encaixam naturalmente, não se
harmonizam, não convergem para nada.
O colégio
raramente vai dar uma resposta para essa indagação ou ajudar
o aluno a encontrá-la. Pelo contrário: vai provavelmente
dificultar a montagem do quebra-cabeça mental, com uma
profusão de ensinamentos fragmentados e muitas vezes
contraditórios. Em português, por exemplo, é grande a
chance de a criança ser acostumada à ideia de que, como a
língua é um processo ininterrupto de
transformação, não existe erro em matéria de
idioma, e sim padrões distintos de expressão, todos
igualmente aceitáveis. Já na matemática e nas demais
disciplinas que envolvem cálculo, sai a relativização
do certo e do errado e entra um cortejo de fórmulas estanques
consagradas pela autoridade da ciência. As correntes
elétricas, ao contrário da regência dos verbos,
não admitem interpretações subjetivas.
É natural,
claro, conviver com uma certa confusão de informações.
O adulto também não consegue encaixar perfeitamente todas as
peças do quebra-cabeça que o irá acompanhar até
o fim da vida. Nem o professor consegue. O adolescente, aliás,
é naturalmente obrigado a passar por uma imersão no caos para
poder começar a assumir a responsabilidade pela própria vida.
Alguma ordem, porém, precisa existir. Se a escola não der ao
aluno a capacidade de integrar as informações desconexas numa
visão abrangente, com um mínimo de coerência e harmonia
? e ela normalmente não dá ?, ele vai buscar por conta
própria, onde puder, a integração dos conhecimentos.
Provavelmente vai tomar emprestado do meio social em que vive algum
arremedo de visão de mundo, que será mais confusa quanto mais
desordenado for esse meio social.
Às
universidades, como a própria palavra já indica, caberia, tal
qual já coube em outros tempos, dar ao estudante uma
compreensão universal da gama de informações que ele
acumulou ao longo dos anos. Mas, de modo geral, elas abdicaram dessa
responsabilidade há décadas, transformando-se em meras
escolas profissionalizantes que mal preparam os alunos para as
exigências do mercado de trabalho. E não dão o menor
sinal de que vão mudar.
A conclusão
inevitável é que é preciso, antes de o aluno deixar o
ensino médio, ajudá-lo a filtrar informações e
integrá-las numa concepção de mundo mais ou menos
coerente. Não se trata de doutrinação. Trata-se de lhe
dar condições de juntar as peças, de procurar
conscientemente sua própria concepção de mundo, o que
faz parte do desenvolvimento de uma inteligência autônoma.
Formar o educando além de informar, um mantra dos estabelecimentos
de ensino, não se consegue sem a indispensável
integração dos saberes, fundamento da boa
educação.
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