OPINIÃO - O ESTADO DE SÃO PAULO - 16/04/2013 - SÃO PAULO, SP
Três
meses depois do início do ano letivo, vários institutos técnicos federais
continuam sem professores para lecionar determinadas disciplinas. Alguns
institutos estão deixando de oferecer cerca de 200 aulas por dia e em vários
cursos o currículo já está comprometido. Em São Paulo, uma das unidades mais
prejudicadas é o Instituto Federal de São Paulo (IFSP), que foi criado em 1909
como Escola de Aprendizes Artífices. Com 6,5 mil alunos, o IFSP chegou a obter,
em 2009, a nota mais alta entre as escolas públicas no Exame Nacional do Ensino
Médio.
A
crise dos institutos técnicos federais foi retratada recentemente por um
relatório do Tribunal de Contas da União (TCU). O documento mostra que faltam
7.966 professores em toda a rede. Segundo os auditores do TCU, a contratação de
professores para preencher essas vagas é muito lenta, o que prejudica o
atendimento em laboratórios.
Os
auditores também constataram que o currículo de muitos cursos está desconectado
da realidade social e econômica das cidades em que estão instalados. E afirmam
que mais de 60% dos formandos criticam a qualidade das aulas, além de reclamar
da falta de professores.
Como
os salários pagos são baixos e o MEC só tem aberto concurso para professores
substitutos, não há candidatos interessados em lecionar nos institutos técnicos
federais. `Houve concurso que já abri quatro vezes. Simplesmente não aparecem
candidatos`, diz o diretor-geral do Instituto Federal de São Paulo, Carlos
Alberto Vieira. Os professores substitutos ganham R$ 4.650. Os professores dão
preferência às universidades federais, que pagam cerca de R$ 6.041.
A
falta de docentes nos institutos técnicos federais mostra que a presidente
Dilma Rousseff não está conseguindo cumprir a promessa de fazer da educação uma
das prioridades de sua gestão.
No
início de seu mandato, ela lançou o Ciência sem Fronteiras - um programa que
oferece bolsas de estudo para que universitários possam estudar no exterior.
Também investiu na expansão da rede de institutos federais, mobilizando
Ministérios, Estados e municípios para agilizar a implementação do Programa
Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Atualmente, a rede conta com
365 institutos. A construção de outros 88 deve ser concluída em dezembro e mais
120 devem ser inaugurados em 2014.
Por
preparar jovens para o mercado de trabalho e amenizar o problema da escassez de
mão de obra qualificada, iniciativas como essas seriam bem-vindas, caso fossem
implementadas de forma responsável, com base em consistentes projetos
pedagógicos.
Mas,
por causa dos interesses eleitorais do governo, esses programas têm sido
implementados de modo açodado. Além da falta de docentes, os novos cursos têm
carga horária considerada insuficiente, não integram de modo adequado o
currículo do ensino médio regular com disciplinas técnicas e aceitam alunos com
baixa escolaridade.
`Poderemos
ter surpresas na avaliação final do programa quanto à real eficiência
pedagógica e social dessas iniciativas`, diz Gabriel Grabowski,
ex-superintendente Estadual de Educação Profissional do Rio Grande do Sul e
consultor da Unesco. `O mercado de trabalho valoriza o profissional
especializado. Logo, quanto melhor é o currículo do curso técnico, maior é o
retorno em termos de remuneração`, afirma Naércio Menezes Filho, professor do
Insper.
Para
o secretário de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, Marco Antonio
Oliveira, `a rede de institutos técnicos federais está passando pela maior
expansão de sua história` - e a falta de professores `é resultado disso`,
explica. Segundo Oliveira, para este ano está planejada a contratação de 8 mil
docentes, para acabar com o déficit apontado pelo TCU, e de 6 mil servidores técnicos.
Esses
problemas são fruto de uma decisão equivocada do governo Dilma. Porque quer
fazer da educação uma bandeira para a campanha pela reeleição, ela estimulou a
expansão da rede federal de institutos técnicos sem o planejamento adequado.
Ampliar a rede é fácil - o desafio é fazê-la funcionar como deve.
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