sábado, 27 de agosto de 2011

NOTÍCIA


The New York Times, 25/08/2011 
Novas escolas redefinem o ensino a distância nos Estados Unidos 
Tamar Lewin

As universidades de Harvard e a Estadual de Ohio não vão desaparecer tão cedo. Mas várias novas empresas online estão tornando mais barato, rápido e flexível obter um diploma superior, levando a experiência de trabalho em consideração. Assim como a Wikipédia mudou todo o mercado de enciclopédias e o iTunes mudou o mercado de música, essas empresas têm o potencial de mudar o ensino superior. Ryan Yoder, 35 anos, um programador de computadores que completou 72 créditos na Universidade da Flórida anos atrás, se matriculou em uma empresa chamada Straighterline, pagou US$ 216 para fazer dois cursos de Contabilidade e um de Comunicação Empresarial e, um mês depois, transferiu os créditos para a Faculdade Estadual Thomas Edison em Nova Jersey, que lhe concedeu um diploma de bacharel em junho. Alan Long, 34 anos, paramédico e bombeiro, usou outra nova instituição, a Learning Counts, para criação de um portfólio que incluía suas certificações e uma descrição do que aprendeu no trabalho. Ele pagou US$ 750 para a Learning Counts e obteve sete créditos na Universidade de Ottawa, no Kansas, onde teria pagado US$ 2,8 mil para obtê-los em uma sala de aula tradicional. 

E Erin Larson, que tem quatro filhos e trabalha em tempo integral em uma emissora de televisão, mas desejava se tornar professora, pagou US$ 3 mil por semestre para a Universidade dos Governadores do Oeste para o máximo de aulas que podia acomodar – mais uma visita semanal de um monitor. “Em qualquer outro lugar, isso teria me custado três braços e pernas”, disse Larson, 40 anos, “e, como uma adiadora certificada, eu considerei a visita semanal muito útil”. Para aqueles que têm tempo e dinheiro, a residência de quatro anos em um campus ainda oferece o que é amplamente considerado como a melhor experiência educacional. Os críticos temem que os cursos online sejam menos rigorosos e mais vulneráveis a trapaças, e que a ênfase deles em fornecer credenciais para empregos específicos possa minar a missão tradicional de encorajar o pensamento crítico. Mas a maioria dos especialistas concorda que, dada a explosão de tecnologias, a redução das verbas das universidades e a expansão do universo de pessoas com expectativa de obtenção de diploma superior, não há um fim em vista para os novos programas que preparam os estudantes para carreiras em áreas de alta demanda, como administração, ciência da computação, atendimento de saúde e justiça criminal.

Chester E. Finn Jr., um membro sênior da Instituição Hoover e presidente do Instituto Thomas B. Fordham, previu que todas, exceto a faixa mais elevada das universidades existentes, mudariam dramaticamente à medida que os estudantes recuperassem o poder em um mercado em expansão. “Em vez de se alimentarem com um prato principal de quatro anos em uma faculdade, é mais como beliscar aqui ou acolá ou ir a um bar de petiscos”, disse Finn, “com as pessoas montando um ensino superior a partir de várias fontes diferentes”. Apesar de muitos estudantes nas instituições nascentes oferecerem críticas excelentes e histórias de sucesso, um recente estudo da Faculdade dos Professores da Universidade de Columbia, que monitorou 51 mil estudantes de faculdades comunitárias no Estado de Washington por cinco anos, apontou que aqueles com o maior número de créditos online eram os que apresentavam menos probabilidade de se formar ou de se transferir para uma instituição de quatro anos. E professores tradicionais como Johann Neem, um historiador da Universidade do Oeste de Washington, consideram lugares como a Universidade dos Governadores do Oeste como anti-intelectuais, notando que sua propaganda enfatiza quão rapidamente os estudantes podem obter créditos, não o quanto aprenderão. 

Fazer um curso online, por conta própria, não é o mesmo que estar em uma sala de aula com um professor que pode tirar suas dúvidas, apresentar pontos de vista diferentes e pressionar você a resolver um problema”, disse Neem. “Há muita pornografia e religião online, mas pessoas ainda mantêm relacionamentos e se casam, e frequentam a igreja e conversam com um pastor.” Mas Anya Kamenetz, cujo livro de 2010, “DIY U: Edupunks, Edupreneurs and the Coming Transformation of Higher Education”, monitora a nova onda de esforços de ensino baseados em internet, diz que as novas instituições continuarão melhorando e expandindo. “Para algumas pessoas, significará passar de um bom ensino para um ótimo”, ela disse. “Para outras, significará ter algum tipo de educação, em vez de nada.” A lista crescente de novas ofertas é surpreendentemente variada, assim como as instituições. Uma nova instituição sem fins lucrativos ainda não reconhecida, a Universidade do Povo, dá aos alunos de língua inglesa com ensino médio completo a chance de estudar administração ou computação gratuitamente, com professores voluntários.

Também há joint ventures entre campi tradicionais e entidades online, como o Ivy Bridge College – uma colaboração entre a Universidade Tiffin, uma escola sem fins lucrativos em Ohio, e a Altius Education, uma empresa comercial –, que oferece diplomas online em dois anos, transferíveis para dezenas de faculdades parceiras com cursos de quatro anos. E organizações populares sem fins-lucrativos, como a Peer 2 Peer University, onde as pessoas iniciam grupos de estudos sobre assuntos tão diversos quanto linguagem Java e arte barroca. Em todos os Estados Unidos, quase três quartos dos estudantes universitários frequentam instituições públicas, e cursos profissionalizantes como a Universidade de Phoenix e Kaplan agora são responsáveis por quase o quarto restante, assim como universidades particulares sem fins lucrativos tradicionais, como Stanford ou Duke. Muitos dos modelos emergentes são bem mais baratos do que os cursos profissionalizantes públicos, que ao longo do ano passado sofreram enorme escrutínio, por deixarem os estudantes com montanhas de dívidas e credenciais de pouco valor. A maioria ainda é nova e muito pequena, o que dificulta encontrar os estudantes que as frequentaram, fora aqueles indicados pelos próprios cursos.
 
E ainda é cedo demais para saber quais decolarão, ou o que poderia surgir para sobrepujá-las. “Eu estou apenas esperando por uma Universidade Wikipédia, com cursos online de alta qualidade, de fonte aberta, ministrados por pessoas diferentes”, disse Richard Vedder, um professor de economia da Universidade de Ohio que dirige o Centro para Produtividade e Custo Acessível Universitário. “Ou o momento em que alguém como Bill Gates criará a Universidade Superastro, encontrando os melhores professores para os 200 cursos que uma boa faculdade oferece, e pagando US$ 25 mil para cada um deles disponibilizar suas aulas online.” Universidade dos Governadores do Oeste: Visitas semanais de um monitor. Há 15 anos, lamentando o custo elevado do ensino superior, os governadores de 19 Estados do Oeste decidiram lançar uma instituição online sem fins lucrativos para ajudá-los a atingir sua meta de uma força de trabalho capacitada. O resultado, a Universidade dos Governadores do Oeste, oferece cursos de educação, administração, profissionais de saúde e tecnologia da informação. Tudo é online, exceto do necessário para as aulas práticas obrigatórias. A maioria de seus 25 mil alunos tem mais de 25 anos e já obteve anteriormente algum crédito universitário. Em vez de serem obrigados a dedicar certo número de horas para obter certa sequência de créditos, os estudantes da Governadores do Oeste devem mostrar “competência” por meio de tarefas e provas monitoradas.

Marie Hermetz, que pagou para a Governadores do Oeste aproximadamente US$ 9 mil para conseguir seu mestrado em Administração de Assistência Médica, disse que soube do programa pelo noticiário e acabou trocando um que acabaria custando até US$ 40 mil. “Frequentando uma aula de cada vez, eu talvez nunca me formasse”, disse Hermetz, 43 anos, que tinha um diploma de bacharel em matemática. “Desse modo, foi preciso menos de 18 meses. E sempre que me deparava com dificuldades, meus professores sempre ajudavam, por meio de seminários pela internet, telefonemas ou por e-mail.” Na verdade, a Governadores do Oeste não possui “professores” no sentido habitual: o currículo online não é desenvolvido pela universidade, mas escolhido por especialistas de fora, e os estudantes contam com “monitores de curso” com diplomas acadêmicos. Além disso, para compensar o isolamento de estudar pela internet, cada estudante tem um monitor que visita toda semana. Nos espaços onde os estudantes avaliam os programas online, a maioria das pessoas só tinha coisas boas a dizer sobre a escola; entre aquelas que não, as queixas geralmente eram sobre monitores inúteis, ou a mudança excessiva de monitores. (Alguns poucos também se queixavam de que a escola não aceitou transferência suficiente de seus créditos.) Os monitores, que são responsáveis por 80 estudantes de cada vez, podem ver quando cada um está conectado e quanto trabalho ele ou ela concluiu. 

Segundo um recente estudo da Escola de Educação da Universidade de Stanford, o “aconselhamento” sobre gestão do tempo e estabelecimento de metas aumenta a probabilidade dos estudantes se formarem nas faculdades tradicionais, um efeito que pode ser ainda mais forte entre os estudantes online, que têm menos ligação com sua escola. “O contato humano com o monitor, que cobra: ‘Você estudou aquele capítulo, você tem alguma dúvida?’ foi chave”, disse Hermetz. “Há uma comunicação constante. Eu estou certo de que não é para todos, mas quando você é mais maduro e realmente quer que algo seja feito, eu não consigo imaginar um modo melhor.”

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