quinta-feira, 25 de abril de 2013

GOVERNO SUSPENDE BOLSAS DO CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS PARA PORTUGAL


MARIANA TOKARNIA - AGÊNCIA BRASIL - 23/04/2013 - BRASÍLIA, DF
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou hoje (24) o cancelamento do edital do programa Ciência sem Fronteiras para Portugal. As universidades portuguesas serão suspensas esse semestre do programa. Segundo o ministro, a intenção é que os candidatos aperfeiçoem ou aprendam uma segunda língua. `Os estudantes têm que enfrentar o desafio da segunda língua. Por isso todos foram convidados a migrar para outros países.
No início de março, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) havia anunciado que os estudantes inscritos para bolsas de estudos em Portugal poderiam transferir as inscrições para os Estados Unidos, o Reino Unido, a Austrália, o Canadá, a França, a Alemanha, a Itália ou para a Irlanda. Segundo a autarquia, foram 9.691 candidatos que apresentaram pontuação acima de 600 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), qualificação condizente com os critérios do programa. A justificativa foi de que `não é viável alocar esse elevado número de estudantes nas instituições portuguesas`.
O governo decidiu fechar as vagas. De acordo com balanço do ministério da Educação (MEC), 600 estudantes ainda não efetuaram a transferência. Eles terão o prazo aproximado de 10 dias para escolher um outro país de destino ou desistir da participação. `Como vão para outros países, eles terão cursos de outro idioma, isso tem que ser planejado antecipadamente, eles devem decidir o mais rápido possível`, disse o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva.
Mercadante anunciou também nesta quarta-feira, a aprovação de 17.282 bolsas para o programa. A lista dos estudantes contemplados será divulgada no site da Capes e do CNPq. Além dessas bolsas, serão concedidas ainda neste semestre bolsas de estudos para editais que ainda estão abertos e para os 600 estudantes que escolheram Portugal com destino. Ao todo, diz o ministro, o Ciência sem Fronteiras atingirá o patamar de 41.133 bolsas, sem contar com os editais que serão lançados no segundo semestre.
A meta para 2013 é conceder 45 mil bolsas. `O problema não é a meta. A demanda é alta e o potencial dos estudantes é alto. Estamos em abril e praticamente já cumprimos a meta`, diz Mercadante. `Temos excelentes alunos nas escolas públicas, que vão muito bem no Enem, mas que não tiveram a oportunidade de viajar e conhecer uma segunda língua. Não vamos deixá-los para trás. O programa veio para incluir quem tem talento, é para todos e a língua é um obstáculo que pode ser superado. Por isso todos terão que desenvolver um segundo idioma, isso é uma meta do programa`.
O ministro esclareceu também que estudantes que participam de outros programas de intercâmbio, como o Programa Conjunto de Bolsas para realização de Doutorado Integral, Doutorado Sanduíche e Duplo Doutorado na República Federal da Alemanha (Capes/DAAD/CNPq), nas áreas contempladas pelo Ciência sem Fronteiras podem ser incluídos no programa. `Não há sentido ter dois programas concorrentes. Os próprios estudantes querem ir para o Ciência sem Fronteiras, as exigências são as mesmas de outros editais, mas as condições são melhores`.
A transferência, de acordo com o ministro, possibilita a abertura de mais recursos que podem ser usados em programas que contemplem a área de humanidades - que não está incluída no Ciência sem Fronteiras.
O Ciência sem Fronteiras é um programa governamental que oferece bolsas de estudo no exterior. O objetivo do programa é promover a mobilidade internacional de estudantes e pesquisadores e incentivar a visita de jovens pesquisadores altamente qualificados e professores seniors ao Brasil. A meta é qualificar 101 mil estudantes e pesquisadores brasileiros até 2015.
O programa oferece bolsas nas seguintes áreas prioritárias: ciências exatas - matemática, química e biologia-; engenharias; áreas tecnológicas e da saúde.

APRENDA PORTUGUÊS NA UNIVERSIDADE SEM PAGAR NADA
GILBERTO DIMENSTEIN - PORTAL APRENDIZ - 24/04/2013 - SÃO PAULO, SP
Sem pagar absolutamente nada – e apenas com um clique – é possível aprender português num programa criado para universitários. E mais: ganha-se certificado.
Em apenas uma semana 2.500 pessoas se matricularam.
Esse programa, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em Tecnologias Sociais da PUC-SP mostra que o Brasil vai aderindo a essa maravilhosa onda de cursos gratuitos de qualidade, criado por universidades. Note-se que o aluno pode usar esse curso a distância como crédito. E, pela plataforma, pode interagir com alunos e professores.
Surpresa dos organizadores: a maioria dos matriculados nem é da universidade. Mas viram a chance de aprender algo de valor.
Por todos os lados do planeta prosperam esses recursos, os quais já começam a ser traduzidos para a língua portuguesa.
Volto a dizer que, por enquanto, nada substitui o valor do contato humano. Mas esses programas por internet devem ter o impacto na disseminação do saber que, no passado, teve Gutenberg, com a invenção do livro feito na prensa.

Informações: http://www.redu.com.br/moocs/preview


AdEUS A GUTEMBERG?
ALDO PEREIRA - FOLHA DE SÃO PAULO - 25/04/2013 - SÃO PAULO, SP
Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg (c. 1398-1468) não inventou a imprensa. Técnica de carimbar escritos em papel já existia na China cinco séculos antes de Gutenberg nascer. Em seu tempo, europeus tinham aprendido também a fabricar papel, outra milenar invenção chinesa, como sucedâneo de papiro e pergaminho.
Gutenberg tampouco inventou tipos móveis de metal: coreanos já os usavam no século 8. E a prensa de sua oficina era a mesma que, fazia séculos, espremia uvas para fabrico de vinho.
Donde então provém a glória de Gutenberg? Não apenas de ter integrado esses elementos num sistema eficiente. Também da inteligente transposição de técnicas de ourivesaria para artes gráficas: com martelo, punção, buril e cinzel gravou no ferro os primeiros moldes para fundição de tipos (`carimbos de letras`). Ou seja, de ter inventado a produção em série dos tipos até então entalhados na madeira um a um.
Com ponto de fusão relativamente baixo, sua liga de chumbo, antimônio e estanho (talvez na proporção 70/20/10) conferia aos tipos dureza suficiente para não se deformarem quando premidos contra o papel. Mas era também suficientemente dúctil para assumir forma precisa na fundição. Noutras proporções, essa requintada `receita` metalúrgica subsistiria em vários processos de fundição de tipos (inclusive linotipo) até o século 20.
O que muito favoreceu o sistema Gutenberg foi o livro já ter evoluído, na época, do formato `volumen` para o códex, isto é, do rolo contínuo para a pilha de folhas costurada na margem.
Além de viabilizar a impressão, essa mudança trouxe ao leitor meio prático de fazer buscas na Bíblia, em breviários e noutras obras religiosas que predominavam no mercado livreiro. O códex matou o `volumen` como o disco do computador mataria a fita e como o CD desbancaria cassetes de áudio e vídeo. Códex era já, em termos, o livro de hoje.
Ao baratear a produção de livros, panfletos e outros impressos, Gutenberg democratizou o saber, afrouxou o privilégio aristocrático e clerical de acesso a ideias e fatos.
Quanto Gutenberg teria vislumbrado do futuro cultural, econômico e político de seu sistema, não se sabe. A acuidade de sua visão técnica contrastava com a miopia comercial. Morreu falido, arruinado por contrato leonino firmado com certo agiota que o financiara.
A revolução de Gutenberg como que antecipou o vendaval internético que hoje desfolha jornais e revistas e os confina a refúgios de acesso pago. Ao mesmo tempo, o e-book (Kindle, Nook, Kobo etc., afora improvisações de outras engenhocas eletrônicas) leva à pergunta: hora do adeus às variantes do sistema Gutenberg de carimbar papel?
Talvez, mas até certo ponto.
Muita gente tem referido precedentes análogos: cinema não matou teatro, televisão não matou cinema nem rádio, discos e iPod não mataram o show. Começa a ganhar foco certo consenso de que, passado algum empurra-empurra de acomodação, uma seleção de jornais, revistas e decerto livros de papel continuará a ser impressa por prazo indeterminado. Por quê?
Porque a maior parte da confraria anônima de leitores sempre incluirá aquele que, mesmo sem repelir engenhocas, abre um livro novo e cheiroso com a expectativa juvenil de quem abre de par em par uma janela para o mundo das ideias, do sonho, da poesia e do saber, mundo de todos os mundos, reais e imaginários. Fetiche? Ah, volúpia do pecado inocente!
Seu lugar continua seu, caro Gutenberg --basta chegar um pouquinho para lá.

ABAIXO A IGUALDADE
HÉLIO SCHWARTSMAN - FOLHA DE SÃO PAULO - 25/04/2013 - SÃO PAULO, SP
Quando contava a meus amigos que estava escrevendo um livro intitulado `Contra a Equidade`, eles olhavam para mim como se eu tivesse chegado ao estágio final da loucura. Daria no mesmo se eu estivesse escrevendo `Contra as Mães` ou `Contra o Oxigênio``. A passagem, do filósofo Stephen Asma, foi extraída de `Against Fairness`, que foi lançado nos EUA em dezembro passado. O livro, como já sugere o título, traz uma crítica à noção de equidade --ou de igualdade, se quisermos traduzir `fairness` de modo um pouco mais provocativo--, que se tornou central para o Ocidente.
Com efeito, dispensamos à equidade um tratamento próximo ao de relíquia sagrada. Ela figura até no `caput` do artigo 5º da Constituição brasileira, arguivelmente o mais importante da Carta, que reza: `Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (...)`. É claro que muito disso não passa de conversa fiada, já que boa parte dos 78 incisos que se seguem, além de outros dispositivos constitucionais, nada mais faz do que estabelecer muitas distinções e das mais variadas naturezas.
De qualquer forma, o amor à igualdade ocorre também em nível visceral.
Nós todos condenamos o nepotismo, que entendemos como uma forma de corrupção, e aderimos incondicionalmente à ideia de `justiça social`. Dividimo-nos apenas na hora de definir se ela deve atuar no nível dos resultados, como sustentam os defensores de cotas raciais, ou de oportunidades, como clamam os proponentes da meritocracia.
O que Asma faz, e com competência, diga-se, é problematizar o conceito de equidade. Começa lembrando que estamos biologicamente programados para favorecer os mais próximos. Se mães não dessem tratamento preferencial a seus filhos e não protegêssemos com mais vigor nossos familiares e amigos, mamíferos e aves não seriam viáveis nem tampouco a vida em sociedade. `Preferir é humano. O amor é discriminatório`, escreve o professor de filosofia.
Hoje, sabemos até quais são os neurotransmissores mais intimamente ligados ao favoritismo. A bioquímica do amor está calcada na oxitocina e nos opioides endógenos. Sentimos prazer sempre que apoiamos os próximos.
Quando abandonamos o campo das ideias abstratas e entramos no da vida real, tendemos a relativizar um pouco nossas convicções excessivamente moralistas. Sim, condenamos magistrados e governantes que contratam seus filhos, mas não achamos tão ruim quando o dono de um bar chama a banda de seu irmão para tocar nas noites de sexta, mesmo sabendo que existem conjuntos melhores por aí em busca de um palco. É possível até mesmo construir uma boa argumentação para mostrar que haveria infração ética se o empresário não ajudasse o irmão.
Daí não decorre, é claro, que políticos devam ser autorizados a contratar seus parentes. A impessoalidade do poder público é um valor justificável, mas é preciso atentar se não estamos nos valendo de uma indignação seletiva, que não aplicaríamos a nossos amigos.
Agir em plena concordância com a cartilha da equidade é para santos, não para humanos, sustenta Asma. E é muito melhor e mais interessante ser humano do que santo. Ele cita até um trecho da autobiografia de Gandhi em que o líder indiano diz expressamente que quem busca o bem não deve cultivar amizades nem amores exclusivos, porque eles introduziriam lealdade, parcialidade, vieses e favoritismo.
O autor também descreve algumas situações que ele julga absurdas que são motivadas pelo culto à igualdade que acabamos criando. Ele conta que ficou chocado ao descobrir que hoje em dia as escolas premiam com medalhas todas as crianças que participam da prova de corrida. A ideia é poupá-las dos dissabores da sensação de derrota. Mas, neste caso, por que realizar a prova, que serve basicamente para discriminar entre vencedores e perdedores?
Uma defesa assim veemente do favoritismo poderia nos levar a classificar Asma como um neoliberal elitista, que não está nem aí para o sofrimento dos menos favorecidos. Fazê-lo, entretanto, seria um erro. Eu pelo menos não consegui vislumbrar nenhum viés de classe na obra do autor. Ao contrário, ele mobiliza seus conceitos para justificar cotas raciais e outras políticas rejeitadas por conservadores clássicos.
Para Asma, o problema das éticas consequencialistas é que elas praticamente exigem que todos recebam o mesmo tratamento, estabelecendo um igualitarismo forte. Quem leva esse aspecto às últimas consequências é Peter Singer que afirma que aqueles que já ganham o suficiente para viver com certo conforto têm o dever de doar o excedente para ajudar os que não tiveram tanta sorte. O cálculo do que cabe a cada um precisa ser totalmente imparcial e basear-se no princípio utilitário, que é o de levar o maior bem ao maior número possível de seres sencientes (vale lembrar que Singer é o grande inspirador dos direitos dos animais).
É fácil perceber que há uma série de paradoxos nos esperando na esquina. Se o filho de um desconhecido tem exatamente o mesmo valor que o meu, se o mendigo com que cruzo na rua exige a mesma consideração que dispenso a meu melhor amigo, então instituições como a família e a amizade ficam no limiar da inviabilidade. Para Asma, cada caso precisa ser considerado separadamente e de acordo com suas especificidades e detalhes circunstanciais.
No debate entre éticas consequencialistas e deontológicas, o filósofo fica com Aristóteles e o modelo da ética da virtude. Seus parentes próximos no mundo moderno são autores como Michael Waltzer, Michael Sandel e Alasdair MacIntyre, que tiram a ênfase do igualitarismo para colocá-la na comunidade. As pessoas se unem por vínculos variáveis, que podem estar na família, nos amigos, nos companheiros de culto, falantes da mesma língua, compatriotas etc. São essas relações que dão sentido à vida, muito mais do que os abstratos círculos éticos em expansão de Singer.
Segundo Asma, um experimento mental proposto por William Godwin no século 19 resolve a questão: você está no meio de um incêndio com mais duas pessoas e só tem a chance de salvar uma delas. A primeira é o arcebispo Fénelon e a outra é uma empregada. Fénelon está prestes a finalizar e publicar `As Aventuras de Telêmaco` (uma importante defesa dos direitos humanos), mas a empregada é a sua mãe. O princípio utilitário (maior bem para o maior número) exige que salvemos o religioso, mas o pronome `minha` diante de `mãe` faz com que esqueçamos quaisquer ideias sobre imparcialidade.
Concordo com Asma que é desumano exigir das pessoas que passem por cima da biologia para dispensar a todos a mesma consideração, mas continuo achando que essa precisa ser a lógica do Estado, que, afinal, é um ente abstrato que não se deixa influenciar nem por oxitocina nem por opioides endógenos. Mesmo que a igualdade de oportunidades não passe de uma miragem, penso que regrediríamos bastante se partíssemos do pressuposto de que, como a meta não pode ser atingida, não devemos nem sequer persegui-la.


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